segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O amor materno...um amor imperativo (parte 1)

O autor inicia se texto constatando que a ternura da mamãe em relação ao seu bebê pode parecer natural e evidente. A escolha da palavra "pode", dando um sentido condicional, já nos diz um pouco do que vamos encontrar nas páginas seguintes. Partindo das controvérsias existentes em torno da noção de "amor materno", Pierrehumbert coloca duas questões:
  1. O amor materno é uma "realidade natural, atemporal, necessária e intangível"? ou

  2. O amor materno é uma "realidade contingente, relativa, produta de uma cultura e de uma época"?

A partir dessas perguntas, ele propõe analisar o amor materno a partir de uma perspectiva crítica e científica, mas faz uma afirmação de saída: "o amor materno nasce do olhar do outro". Esse olhar, como sublinha muito bem, é o olhar da mãe carregado de sua história passada; passado que se atualiza quando ela olha o seu bebê.

Com o intuito de analisar o amor materno sob uma perspectiva crítica e científica, Pierrehumbert inicia a exposição dos seus argumentos questionando a aparente evidência da ligação (bonding).

O fenômeno da ligação/bonding em animais foi objeto de inúmeros estudos. Os estudos com as ovelhas, conduzidos por Hubert Montagner (1988) e Sarah H. Blaffer (1999), os mais conhecidos, demonstram que a ovelha desenvolvem um comportamento muito específico ao olhar seu filhote nas primeiras horas de nascimento, ao mesmo tempo que manifesta comportamento agressivos em relação a outros filhotes. Essas primeiras horas, nas quais se dá essa ligação/bonding são chamadas de "período sensível". Constatou-se, também, que se o carneiro é separado de sua mãe nesse período, existe o risco da mãe recusar lambê-lo e amamentá-lo. A combinação dos hormônios da mãe e os sinais emitidos pelo recém-nascido (especialmente os olfativos) parece ser causa do desencadeamento dos cuidados da mãe.

Uma outra pesquisa conduzida com ratos, por J. Terkel e J. S. Rosenblatt (1968), demonstra que as mudanças fisiológicas preparam a fêmea para seu papel maternal. Ao se injetar uma quantidade de sangue de uma fêmea grávida numa virgem, observaram que essa última ativava as respostas de cuidados maternos ao recém-nascido.

Foi C. S. Carter (1998), contudo, que descreveu com precisão os mecanismos de preparação para a maternagem nas fêmeas mamíferas. A ocitocina foi apontada como o hormônio que desempenha papel fundamental nesse mecanismo. Esse hormônio seria responsável pelas contrações uterinas, pelo parto e pela produção do leite materno. Os estudos com os carneiros indicam que a sensação de prazer proporcionada pela ocitocina no sistema nervoso da mãe no momento do parto permite que ocorra a ligação/bonding. Supõe-se, também, que a presença desse hormônio no leite materno favorece a ligação do bebê com sua mãe. Ao longo da vida dos mamíferos, esse hormônio será responsável pelo comportamento social e sexual.

Não há dúvida, como assinala o autor, que a ligação/bonding é um comportamento adaptativo que possibilita a sobrevivência do filhote porque favorece o aparecimento dos comportamentos maternos de suprimir as necessidades de suas crias. Isso é comum e observável nos mamíferos. Porém, a questão que ele coloca é: as coisas acontecem dessa forma na espécie humana?


Figura: A virgem, Santa Ana e a criança com o cordeiro (Leonardo da Vinci, 1510)









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