- O amor materno é uma "realidade natural, atemporal, necessária e intangível"? ou
- O amor materno é uma "realidade contingente, relativa, produta de uma cultura e de uma época"?
A partir dessas perguntas, ele propõe analisar o amor materno a partir de uma perspectiva crítica e científica, mas faz uma afirmação de saída: "o amor materno nasce do olhar do outro". Esse olhar, como sublinha muito bem, é o olhar da mãe carregado de sua história passada; passado que se atualiza quando ela olha o seu bebê.
Com o intuito de analisar o amor materno sob uma perspectiva crítica e científica, Pierrehumbert inicia a exposição dos seus argumentos questionando a aparente evidência da ligação (bonding).
O fenômeno da ligação/bonding em animais foi objeto de inúmeros estudos. Os estudos com as ovelhas, conduzidos por Hubert Montagner (1988) e Sarah H. Blaffer (1999), os mais conhecidos, demonstram que a ovelha desenvolvem um comportamento muito específico ao olhar seu filhote nas primeiras horas de nascimento, ao mesmo tempo que manifesta comportamento agressivos em relação a outros filhotes. Essas primeiras horas, nas quais se dá essa ligação/bonding são chamadas de "período sensível". Constatou-se, também, que se o carneiro é separado de sua mãe nesse período, existe o risco da mãe recusar lambê-lo e amamentá-lo. A combinação dos hormônios da mãe e os sinais emitidos pelo recém-nascido (especialmente os olfativos) parece ser causa do desencadeamento dos cuidados da mãe.
Uma outra pesquisa conduzida com ratos, por J. Terkel e J. S. Rosenblatt (1968), demonstra que as mudanças fisiológicas preparam a fêmea para seu papel maternal. Ao se injetar uma quantidade de sangue de uma fêmea grávida numa virgem, observaram que essa última ativava as respostas de cuidados maternos ao recém-nascido.
Foi C. S. Carter (1998), contudo, que descreveu com precisão os mecanismos de preparação para a maternagem nas fêmeas mamíferas. A ocitocina foi apontada como o hormônio que desempenha papel fundamental nesse mecanismo. Esse hormônio seria responsável pelas contrações uterinas, pelo parto e pela produção do leite materno. Os estudos com os carneiros indicam que a sensação de prazer proporcionada pela ocitocina no sistema nervoso da mãe no momento do parto permite que ocorra a ligação/bonding. Supõe-se, também, que a presença desse hormônio no leite materno favorece a ligação do bebê com sua mãe. Ao longo da vida dos mamíferos, esse hormônio será responsável pelo comportamento social e sexual.
Não há dúvida, como assinala o autor, que a ligação/bonding é um comportamento adaptativo que possibilita a sobrevivência do filhote porque favorece o aparecimento dos comportamentos maternos de suprimir as necessidades de suas crias. Isso é comum e observável nos mamíferos. Porém, a questão que ele coloca é: as coisas acontecem dessa forma na espécie humana?
Figura: A virgem, Santa Ana e a criança com o cordeiro (Leonardo da Vinci, 1510)
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