quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O amor materno...um amor imperativo (parte 3)

"Tendresse" de Marie Lydie Joffre



A "preocupação materna" e seu desencadeamento

Se a existência da ligação/bonding na espécie humana é colocada sob questionamento, o que não se pode negar é que existe uma certa preocupação materna que, segundo o autor, se traduz em "uma vigilância emocional e um disponibilidade particular da mãe". Essa condição psíquica é essencial nos primeiros meses de vida do bebê porque permite à mãe antecipar e atender as necessidades básicas do recém-nascido. Para o Pierremhumbert, esse estado particular também torna possível que a mãe reconheça, e se torne vulnerável, as competências relacionais do bebê, muito primitivas, mas só assim a mãe pode estabelecer com ele interações cada vez mais complexas (ou seja, que excedam os cuidados físicos). Para T. Berry Brazelton (1991), a mãe, nessa relação com seu bebê, servirá de "modelo de regulação emocional" para ele. (O autor observa que esse estado é descrito de maneira ligeiramente diferente por Winnicott - preocupação materna primária - e por Stern - constelação materna).

Se por um lado, a mãe é dotada dessa predisposição emocional de estabelecer vínculo com seu bebê, os estudo de Pierre Rousseau (2000) indicam que os bebês também são dotados de algumas capacidades que serviriam para despertar esse estado na mãe. O choro, especialmente, serviria para apelar pelos cuidados de outro indivíduo da espécie. Além do choro, o "agarramento" e a busca de contato visual são recursos utilizados pelo bebê para despertar na mãe comportamentos cuidadores que visem atender duas necessidades fundamentais: o "attachement" (apego) e a comunicação com seus semelhantes. Nesse estudo conduzido por Rousseau, oito em cada dez mães reconhecem-se como destinatárias do choro do bebê.

A conclusão que se pode chegar com os estudos de Rousseau é que, apesar da disposição exarcebada da recente mãe, é necessário que o bebê possm induzir e provocar o interesse do adulto.
Esse sistema delicado de sensibilidade e apelo é facilmente percebido quando existe alguma disfunção. A clínica do pós-parto mostra constantemente o risco da rejeição materna quando não há essa sensibilização psicológica em relação ao bebê". (Pirrehumter, 89)

Segundo estudos conduzidos pela equipe do Dr B. Pirrehumter, um dos fatores que pode influenciar essa desensibilização psicológica em relação ao bebê são os partos de alto risco. Essa situação traumática pode provocar um sentimento de desobrigação na mãe ou uma super-implicação confusa e ansiosa que, em ambos os casos, se expressa na ausência de sensibilidade materna às necessidades do recém-nascido. O autor também relaciona a "Síndrome de Munchausen por procuração" como uma expressão grave dessa insensibilidade que, no caso, se apresenta sob a forma de perversão materna.

Assim como biologicamente, o feto, para se desenvolver, passa por uma batalha contra reações imunitárias da mãe, o recém-nascido precisa persuadir a mãe a amá-lo.

A natureza, então, proporciona ao bebê diversas maneiras de persuadir o adulto de lhe prestar cuidados. O adulto humano, por sua vez, possui circuitos perceptivos sensíveis ao charme dos bebês. O aspecto morfológico do bebê - fronte abaulada, grandes olhos, caixa craniana volumosa, face rechochuda - transmite graciosidade capaz de atrair o olhar da mãe e o desejo de lhe prestar cuidados.


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